Eu estava repensando sobre as relações conjugais e as mudanças ocorridas nas últimas décadas. E muuuita coisa mudou. As mulheres tornaram-se visivelmente independentes, mais ativas e a figura de um marido deixou de ser o alvo de vida da maioria de nós. Isso devido à ascensão do feminismo.
Ele, o feminismo, é um movimento político-social que objetiva aumentar e garantir a atuação da mulher em todos os eventos nos quais ela julgar adequada sua atuação. Para isso o movimento feminista age conscientizando a todos, e particularmente as mulheres, sobre os direitos das mesmas e alerta para as situações em que ocorre cerceamento das liberdades individuais femininas.
Se a ação do movimento feminista se limitasse a esses objetivos, creio que todo ser vivente com o mínimo de inteligencia e senso de justiça se auto denominaria feminista. Mas não é isso que acontece. Hoje vemos muita gente contrária ao movimento. Isso ocorre como reação às vertentes mais radicais as quais demonizam o masculino.
“E se a gente sabe que os perpetuadores de nossa exploração e de nossa opressão são os homens — já que são eles que se beneficiam desse sistema — , então não tem como fugir da análise de que, em um relacionamento heterossexual, eventualmente o cara vai reproduzir essa estrutura.” Furiosa feminista materialista, ativista anti-prostituição e anti-pornografia. contra a cultura do estupro e da pedofilia.
É neste ponto, que começa meu questionamento do quanto essa postura pode atrapalhar nossas relações íntimas. Na literatura feminista,, encontro uma descrição de mulher com a qual, realmente e felizmente, não me identifico. Somos retratadas sempre como as oprimidas e as vitimizadas. E essas caracteristicas derivam exclusivamente das ações voluntárias dos homens, idealizadores do sistema patriarcal. Já esses últimos são retratados como exploradores, estupradores e opressores. Neste discurso, cuidar de uma mulher significa dizer que ela é incapaz. Admirar a beleza do seu corpo é ser porta-voz da ideologia do estupro e blá,blá, blá…
Assim, acabo vendo muitos casais, principalmente os mais jovens, em uma disputa para provar quem é mais capaz. Usam de maneira equivocada argumentos justos. Como, por exemplo, o fato de que as mulheres têm a mesma capacidade intelectual de que os homens é utilizado para embasar a frase ” as mulheres não precisam dos homens para nada”. O fato de os homens serem mais focados e as mulheres terem a capacidade de ser multitarefa embasa: ” a mulher é mais capaz/melhor que o homem” ou pior “nem pra educar os filhos eles servem”.
E por aí vai. No final, sem perceber o casal deixa de ser uma equipe, que fortifica talentos individuais e atenua faltas, para tornar-se fonte de competição. E o “fogo amigo” é sempre o pior, uma vez que conhece nosso íntimo, as nossas mais escondidas faltas e inseguranças. Dá para imaginar a dor que ele pode causar e o ressentimento que origina.
Além de tudo, acabo vendo, também, atitudes ingenuas e cavalheirescas sendo mal interpretadas. Com o tempo, esquecemos que somos todos oprimidos, tanto homens quanto mulheres, quando nos deixamos dominar por estereótipos. Caímos em uma armadilha quando esquecemos que somos únicos e que devemos resguardar nossa essencia, nossa verdade, sob pena de nos causarmos flagelo psiquico.
O feminismo é uma ferramenta fundamental para a modificação das relações sociais entre homens e mulheres. Isso é indescutível. Mas trazê-lo para a esfera íntima sem o devido cuidado é prejudicial a todos. No instante em que a mulher vê o homem como adversário, ela deixa de percebê-lo como indivíduo. E é mais fácil ignorar suas dores. É mais facíl esquecer que a ele é imposto objetividade, coragem, capacidade de prover e força física por exemplo. E que essas imposições o levam a morrer mais cedo e de forma mais violenta que ela. E que ele também é servo.
Vivemos em um mundo míope, mas se tivermos coragem para trocar as lentes perceberemos que o patriarcado é a vivencia de uma masculinidade atrofiada e imatura e que o feminismo, quando radical e levado às relações íntimas, é seu espelho disfarçado. Ambos oprimem, dividem e terminam por subtrair nossas oportunidades de vida plena.