Amor incondicional não existe

   por Clarice Prado Lopes
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Amor incondicional, na relação a dois, não existe. E vou te dizer: note isso e não esqueça!

Por que, mesmo o amor materno, que é a versão mais próxima dele, também tem limites. Apesar de extremamente alargados. Alargados quase ao infinito, é verdade. Já os outros amores, ao contrário, têm limites beeem visíveis! Acabam logo ali, onde começa a obsessão, o sentimento de posse e o controle do outro.

Estranhamente, passamos a vida a procura dele e de um parceiro afetivo que se disponha a ofertá-lo a nós. De preferência de graça, é claro. Única e exclusivamente porque existimos, respiramos, sorrimos…Apesar de estes serem os motivos mais adequados para amar alguém, há que se exigir reciprocidade como garantia contra a degradação deste mesmo amor e proteção contra abusos .

Caso é que, se encontrarmos tal criatura, encontraremos também uma pessoa doente. Sim uma pessoa doente. Amar incondicionalmente o parceiro afetivo é doentio. No início, esse amor é fascinante, extremamente sedutor, nos faz pensar que encontramos a fonte da felicidade. Em nossa idealização, encontramos um amante intenso e completamente entregue, que passa os dias a girar ao nosso redor. Muitas ligações, disponibilidade, recados e “eu te amo”.

Ser amada assim nos envaidece. Mas com o passar dos dias, ele nos cansa; isso quando não nos enlouquece.

Pense; o amor de nossa mãe, já na adolescência, se torna sufocante. Queremos nos tornar independentes e não lhe ter que dar satisfações. Sentimos necessidade de crescer e partir. Mais espaço ainda requer um amor de casal.

A pessoa que diz ofertar um amor incondicional se ilude, porque o natural é o amor reciproco. E logo, iniciam as cobranças por mais amor e mais atenção. E sem poder corresponder à altura o ser amado sente-se confuso, culpado, enjoado, irritado e, por fim, torna-se escorregadio.

A relação idílica converte-se em um inferno na qual um busca e  o outro foge, gerando sofrimento e o fim da relação.

Então, vamos deixar o amor incondicional para as mães. Àquelas que são as geradoras, guardiãs e propagadoras de todo amor que existe. Vamos deixar o amor incondicional à elas que ensinam a amar e a ser amado. E que nos acompanham como uma voz interna, fortalecendo nossa auto estima e garantindo nossa fé em um futuro melhor. Por que sussurram em nossos ouvidos: “está tudo bem”, “eu estou aqui”, “vai dar tudo certo”, “eu te amo”.

Nos de mais casos, amor incondicional é demais! É excesso. Para nosso amante só podemos dar a realidade. Só podemos dar e exigir receber reciprocidade. Se damos amor, queremos receber amor, se damos atenção queremos atenção, se somos honestos desejamos receber honestidade. A reciprocidade torna a relação equilibrada. Com ela não há dívidas: há trocas constantes.

É bom lembrar, por fim, que o amor verdadeiro não aceita contabilidade, viu? Na relação, cada um dá o tanto de amor que possui. E podemos dar um tantinho a  mais do que recebemos, desde que isso não signifique sofrimento ou nos diminua como pessoas. No amor que é maduro, sua expressão deve estar sempre fluindo entre os amantes.

Buscar ou ofertar amor incondicional, na relação a dois, é sinal de despreparo e acaba por nos destruir. 

Reciprocidade gera crescimento, fortalecimento da relação e de suas partes, além momentos felizes.

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